sábado, 20 de agosto de 2011

Aos meus amigos: muito obrigada!


É engraçado como qualquer coisa pode ter um significado. Uma árvore pode ser apenas uma árvore para qualquer um, mas pode se tornar especial para alguém se o seu primeiro beijo for roubado em sua sombra. Uma praia  qualquer pode ser onde alguém passou a infância e guardou tantas memórias especiais. Uma caixa de escova de dentes pode ser especial para um casal que compra suas primeiras escovas juntas.

Nossas memórias imprimem valores em coisas que poderiam ser tão simples, mas que possuem muito mais significado após determinado acontecimento.

Uma casa é sempre uma casa, mas pode ser um lar. Uma casa é um teto, um lugar para dormir e relaxar. O lar vem somado de pequenos e grandes acontecimentos, memórias, pedacinhos de uma história construída e imprimida em cada parede.

Não é muito difícil ter um lar, basta um pouco de amor e amigos que com o tempo cada buraquinho na parede ou marca de mão será uma história a ser contada, até que as paredes novamente se encontrem com as tintas brancas, apagando as marcas e a história de quem viveu ali. Preparando-se para novamente se tornar casa, e posteriormente um lar para um novo morador.

As paredes coloridas, os amigos que apareciam só para tirar uma soneca no sofá laranja encardido e sem pé no canto da sala e sumiam cedo pra trabalhar, a planta que só bebia cerveja  e nunca morreu, o porquinho vermelho, a preguiça de domingo de arrumar a bagunça dos finais de semana, os edredons e colchões espalhados por toda a sala, a menor mesa para almoçar do mundo, os porteiros reclamões, o porteiro gente boa, o banheiro com goteira, os maravilhosos carnavais e seus constantes caos domiciliares, os pregames, os amigos, os amigos dos amigos, eternas cervejas de garrafa, vodkas, cachaças, comida do Pavão Azul, Real Chopp, Posto 3, a chave embaixo do tapete para os amigos que apareciam de surpresa que evoluiu para uma porta que permaneceu 6 meses sem ser trancada, sempre aberta a quem quisesse ou precisasse ser acolhido ou fazer uma surpresa.

Vou morrer de saudade do meu lar em Copacabana, e fico muito feliz e agradecida de tê-lo podido compartilhar com tantos amigos. Na verdade, agradeço muito àqueles que com a presença ajudaram a criar tanta história no lugar em que passei os melhores anos da minha vida. Coabitantes, família, amigos, amigos dos amigos, amigos dos irmãos, primos, cães, gringos, amigos dos gringos e todos aqueles que ajudaram a criar tanta história. Muito obrigada mesmo!

Aos meus amigos: muito obrigada!

É engraçado como qualquer coisa pode ter um significado. Uma árvore pode ser apenas uma árvore para qualquer um, mas pode se tornar especial para alguém se o seu primeiro beijo for roubado em sua sombra. Uma praia  qualquer pode ser onde alguém passou a infância e guardou tantas memórias especiais. Uma caixa de escova de dentes pode ser especial para um casal que compra as primeiras escovas juntas.

Nossas memórias imprimem valores em coisas que podem ser tão simples, mas que possuem muito mais significado após determinado acontecimento.

Uma casa é sempre uma casa, mas pode ser um lar. Uma casa é um teto, um lugar para dormir e relaxar. O lar vem somado de pequenos e grandes acontecimentos, memórias, pedacinhos de uma história construída e imprimida em cada parede.

Não é muito difícil ter um lar, basta um pouco de amor e amigos que com o tempo cada buraquinho na parede ou marca de mão será uma história a ser contada, até que as paredes novamente se encontrem com as tintas brancas, apagando as marcas e a história de quem viveu ali. Preparando-se para ser casa, e posteriormente um lar para um novo morador.

As paredes coloridas, os amigos que apareciam só para tirar uma soneca no sofá laranja encardido e sem pé no canto da sala e sumiam cedo pra trabalhar, a planta que só bebia cerveja  e nunca morreu, o porquinho vermelho, a preguiça de domingo de arrumar a bagunça dos finais de semana, os edredons e colchões espalhados por toda a sala, a menor mesa para almoçar do mundo, as constantes visitas dos amigos, a internet "emprestada" da rede da Mi e debora, o vizinho vascaíno que gritava em jogos de reprise no meio da noite, os vizinhos calorosos que gritavam juntos na janela por qualquer motivo, ainda que fosse uma sentença considerada justa em rede nacional no meio da noite, ou o último capítulo da novela das nove, os porteiros reclamões, o porteiro gente boa, o banheiro com goteira, os maravilhosos carnavais e seus constantes caos domiciliares, os pregames, os amigos, os amigos dos amigos, eternas cervejas de garrafa, vodkas, cachaças, comida do Pavão Azul, Real Chopp, Posto 3, a chave embaixo do tapete para os amigos que apareciam de surpresa que evoluiu para uma porta que permaneceu 6 meses sem ser trancada, sempre aberta a quem quisesse ou precisasse ser acolhido ou fazer uma surpresa. Lembranças que vou guardar pra sempre no coração.

Vou morrer de saudade do meu lar em Copacabana, e fico muito feliz e agradecida de tê-lo podido compartilhar com tantos amigos. Na verdade, agradeço muito àqueles que com a presença ajudaram a criar tanta história no lugar em que passei os melhores anos da minha vida. Coabitantes, família, amigos, amigos dos amigos, amigos dos irmãos, primos, cães, gringos, amigos dos gringos e todos aqueles que ajudaram a criar tanta história. Que bom saber que vocês participaram tanto comigo e escolheram o meu lar para tantas maravilhosas memórias! Muito obrigada mesmo!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quem sou eu? Depende do ponto de vista.

É muito difícil estar em outro País. Do nada, todas as suas coisas, tudo o que você conhece, tudo o que você construiu, incluindo-se aí desde seus bens materiais à reputação que você construiu ao longo dos anos não valem nada.

Em casa eu tenho meu canto, meu quarto, com todas as coisas que comprei com o passar do tempo até o apartamento ter mais cara de lar do que de casa, de parecer mais meu. Tenho os amigos que fiz ao longo dos anos, tenho a reputação que construí fazendo o que eu achava que condizia com a imagem do que eu gostaria de ser, família, cachorro, marcas favoritas, ruas favoritas, restaurantes e bares que me identifico, meu carro, meu diploma.

Aqui eu não tenho nada. Absolutamente nada. Não há nenhum registro de história meu nesse lugar. Posso me reinventar, ser quem eu quiser. Por um lado isso é bom, por outro não. As ruas que passamos fazem parte da nossa história, as marcas de comidas favoritas também. Chegar em um lugar em que você deve criar toda uma nova história é difícil, o faz sentir-se só. Ir ao supermercado me leva o dobro do tempo do que em casa. Não conheço os produtos, não sei qual é o melhor, não sei onde fica, muitas vezes não sei para quê serve.

Pouco a pouco vamos criando a nossa história nos lugares. Aqui já tenho caminhos que prefiro percorrer, lugares que gosto mais de frequentar do que outros, já descobri a cerveja que mais se aproxima da que estou acostumada a beber, e ainda estou tentando descobrir o petisco que mais se aproxime dos meus favoritos: carne seca com farofa de alho e aipim frito ou filé mignon ao molho madeira com farofa e molho à campanha. Bar Devassa, Manoel e Joaquim, BemDito... saudade. Nada disso por aqui.
Carne é uma das coisas que eu classifiquei como muito caras e nenhum dos dias em que fui ao mercado me dei ao luxo de comprá-la. Abri mão das frutas também, não completamente, mas pelo menos sem a mesma intensidade a qual já estava acostumada. Impossível me dar ao luxo de comer uma melancia pela bagatela de 7 dólares ou um copo de água de côco (fake) por U$3,99 quando estava acostumada a comprar de um senhorzinho no Centro todos os dias pela manhã por 1 real, direto da fruta.

Eu nunca fui realmente independente. Sempre precisei dos meus pais. Nunca ganhei dinheiro suficiente a me chamar de dona do meu nariz, mas me lembro que as coisas que eu queria eu sempre tentei fazer do meu jeito, na hora em que desse vontade.
Quando tinha meus 11 anos juntava dinheiro do lanche da escola para poder comprar meu próprio xampu. Eu queria um que era mais caro e estava nas revistas, e por isso administrei meu dinheiro para poder alcançar meu objetivo. Será que eu precisava mesmo de guaraná e um salgado todos os dias na hora do recreio? Troquei por uma barra de cereal ou biscoito que levava de casa (ou até mesmo ficava sem comer nada), e em pouco tempo tinha meu John Frieda para cabelos danificados de praia nas mãos, toda feliz.

Até os 18 anos sempre fiz tudo de bicicleta, era uma dessas bicicleta praianas, lilás, montei ela com algumas peças que me dessem mais conforto, guidão e banco largos, me levava todos os dias para aula e para a praia. Guardava o dinheiro do ônibus para comer meu sanduíche favorito: chester, ovos, batata palha e catupiry, com mate bem gelado.
No primeiro mês em que aniversariei meus 18 anos de vida, corri para a auto-escola. Mal podia esperar para percorrer distâncias mais longas no conforto do carro do meu pai. Na verdade, queria tanto ter a liberdade de não depender do meu pai estar em casa para poder dirigir que passei a usar um carro bem velho dele, que já havia pegado fogo duas vezes, não abria a porta do motorista e aquecia pelo menos uma vez por dia. Nem velocímetro ele tinha, mas eu o amava, me levava para onde eu quisesse (e onde não houvesse rampa muito íngreme, pois o risco de aquecer era alto). Seu rádio do nada aumentava o volume para o máximo, dando sustos em quem quer que estivesse no carro, e quem estivesse no banco carona não podia ficar muito tempo com os pés no chão, pelas altas temperaturas que ele atingia, mas ele me dava liberdade.

Trabalhei em um restaurante de frutos do mar aos 16, durante finais de semana, para poder ter mais dinheiro para sair à noite com meus amigos. Fiz estágio na Defensoria Pública, trabalhei em um dos presídios de um dos complexos mais conhecidos e mais perigosos do Brasil. Trabalhei em outros dois escritórios cíveis, fui monitora de Direito Civil na minha faculdade.

Nada disso conta aqui. Ninguém me conhece. Posso ter sido uma louca, posso ter sido presa, posso inventar que eu fiz o que eu quiser. Ninguém conhece a minha faculdade, os escritórios em que passei, o presídio. Minha carteira funcional, que me autoriza a advogar no meu país é irrelevante aqui, há lugares que não a aceitam nem como identidade civil e eu tenho que apresentar meu passaporte. Não tenho carro, carteira de motorista. Não tenho meu quarto, a televisão que paguei em doze parcelas (na verdade paguei as 6 primeiras, depois não tinha mais como pagar e minha mãe terminou as parcelas para mim), meus lençóis, meus pratos, meu sofá. Nada é meu aqui. Tudo que eu olho não me traz uma memória, uma historia ainda que pequena.

É muito difícil a sensação de um dia pro outro você não representar nada, que você conhece tudo novo e todos passam a te conhecer a partir de uma história que você ainda vai criar. O que as pessoas saberão de você, as recordações que terão contigo nem você sabe quais serão.

É muito difícil você não servir nem para os serviços do setor de apoio do seu país, por não ter a menor identificação civil, não ter o menor registro no lugar onde você mora. Ainda estou aprendendo a lidar com isso.

Ainda com as dificuldades, o fato de ter a oportunidade de passar por uma situação dessas e poder rever meus conceitos sobre o que eu penso em relação à situações que nem passavam pela minha cabeça em casa é uma experiência incrível. Tudo tem seu lado bom. Quem sou eu? Depende do ponto de vista para responder.
Uma pessoa daqui poderia responder uma resposta diferente para quem me conhece em casa. Aqui provavelmente sou vista com uma pessoa mais dependente, mais insegura, sou ouvida diferente, não me expresso exatamente como gostaria de me expressar, como me expresso na minha língua mãe. Quando chega um momento em que devo arguir uma visão política, sociológica ou algo que requeira melhores habilidades com a língua, não digo exatamente o que eu quero, ainda que passe a mensagem com palavras diferentes. Isso faz as pessoas me conhecerem menos.
Em casa sou mais segura, procuro fazer as coisas sozinha, sei como me comportar nas situações. Sei como me vestir para as ocasiões, tenho um perfil provavelmente enquadrado do que representaria uma garota como eu. Aqui não me encaixo nos padrões, pelo menos não exatamente, ainda que me encaixe numa idéia. Díficil explicar. Vou me adaptando.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sim Senhor!

Há um tempo atrás assisti a um filme bem bobo, mas com uma mensagem que mudou meu ponto de vista sobre as coisas. O filme chama-se "Sim, Senhor!" com o Jim Carrey, e a idéia central é que ele é um cara muito fechado para tudo, e um feitiço o obriga a dizer sempre sim (sim, quase uma imitação de O Mentiroso), e os "sims" que parecem serem para coisas bobas acabam mudando o rumo da vida dele, que fica mais aberto às oportunidades, descobre um amor e vive feliz para sempre.

Desde que assisti procuro às vezes dizer sim para coisas que normalmente eu não diria, e isso me deixou uma pessoa muito mais aberta, e até mais confortável comigo mesma. Hoje eu quis levar ao pé da letra e simplesmente dizer sim para tudo. Não acordei pensando nisso, mas agora que cheguei em casa vi que não teve uma coisa sequer que eu tenha dito não, para quem quer que fosse na rua, e fazendo isso no automático mesmo, ainda que sem querer, tive um dia sozinha, e maravilhoso (que ainda nem terminou).

Minha meta do dia era trocar uma sandália de 15 dólares que eu comprei na Forever 21. Acho que eu não vou usá-la, e como a loja fica longe de onde eu moro, poderia caminhar pela cidade, passar pelo Centro, pela Praça, pela rua cara (quase uma Ipanema da vida, só que 18 vezes mais rica), e apreciar e conhecer melhor o lugar onde eu moro. Quase não pego o metrô aqui, acho que andando passamos a conhecer melhor a cidade, e assim posso observar mais.

Antes de sair, procurando apartamentos em um site da internet, resolvi mandar ao invés daqueles e-mails automáticos, do tipo "Olá, me interessei pelo apartamento, esse é meu número e podemos nos comunicar em tais horários. Att. ", resolvi enviar na verdade um e-mail realmente sendo sincera, dizendo que tinha me formado em direito no ano passado, mas que não estava feliz, e por isso resolvi me dar a oportunidade de me abrir pro mundo e vim para cá para me autoconhecer e fazer um curso que me interesse, e que tinha trazido feijões e cachaça, para podermos comemorar a nova roommate ao melhor estilo brasileiro.
Em 15 minutos obtive uma resposta positiva, segunda-feira vou ver o apartamento e seja o que Deus quiser. Não estou me mudando agora, mas minha amiga e coabitante deve sair do apartamento em breve, e por mais que queiramos ir para algum lugar que seja perto e juntas, é difícil acharmos dois quartos vagos em um mesmo apartamento.

Assim que saí do apartamento, me lembrei que não é simples sair de casa sem almoço e parar em qualquer lugar, e que eu acabaria comendo apenas um sanduíche. Ao invés de seguir meu caminho em direção à loja, resolvi comer arroz e feijão naquele lugar gostoso de um brasileiro aqui na esquina. Entrei, sentei, pedi, e horas depois a cena de quem entrava era de uma magrela rindo e falando alto com duas capixabas, um paraíba e um carioca de Del Castilho, entre eles o dono do restaurante. Tenho um churrasco marcado todo domingo na rua deles, que acontece depois do futebol.

A rua estava vazia quando saí do restaurante, o clima quente e extremamente úmido assustou as pessoas, que estavam acolhidas em seus ares condicionados. Segui meu caminho na sombra.

No caminho, disse sim para um vendedor de água em uma cadeira de rodas, que não falava nenhuma língua que eu reconhecesse, e sim para um vendedor de maquiagem, que perguntou se eu poderia sentar na cadeira do seu stand para que ele pudesse me mostrar seus produtos. Era um senhor italiano, de 61 anos, apaixonado por maquiagem e pintura desde os 19. Saí de lá parecendo uma palhaça, mas tive que dizer não na hora em que ele tentou me vender os produtos que ele usou. Na verdade eu disse sim, mas apenas para o produto que eu tinha ouvido que estava em falta.

Disse sim também para alguns caminhos novos, me perdi, mas logo encontrei uma rua conhecida e parei na Starbucks. Uma surpresa agradável ao entrar e ouvir bossa nova. Pedi uma água e continuei minha jornada.

Troquei minha sandália, voltei andando, cansadíssima. Resolvi cortar caminho por dentro do parque, é mais bonito, e o caminho é mais curto. Tem muitos esquilos por aqui, patos, coelhos, e as coisas mais fofas que existirem pela terra. O Rio é cheio de bichos, mas são mais exóticos e menos fofos. Não estou desmerecendo meus micos lindos, mas ao ver um tucano eu fico mais maravilhada com a sensação de ver um animal que tem o bico quase do seu tamanho, e tão colorido, do que pensando o quão gracioso é seu andar.

Dentro da praça, uma moça me abordou. Ela tinha uns vinte e poucos, toda de preto e olhos bem azuis. "Posso te fazer uma pergunta?" ela disse. "Claro!" respondi. Duas horas e meia estávamos eu, ela e seu amigo, sentados na grama à beira do lago, enquanto ela me contava sobre a bíblia, a Igreja, e os mandamentos de Deus. Eu nunca falaria sim para qualquer pessoa que me oferecesse ouvir a palavra de Deus no Rio de Janeiro. Não porque eu não me importe com Deus, mas porque eu não tenho a menor paciência mesmo. Hoje foi diferente, eu queria ouvir, fiquei interessadíssima em cada coisa que ela falava, sobre as duas vindas de Jesus à Terra (sim, duas), os símbolos do Sol, do número da besta, e outras coisas que a Igreja representava em nome de Jesus, falsamente. Trocamos telefone.

Apenas dizendo sim acabei ouvindo e conhecendo pessoas interessantíssimas, ouvi assuntos que por mais que eu não concordasse, me ensinaram alguma coisa, e entendi seus pontos de vistas. Abri oportunidades, tenho churrascos aos domingos, encontro com a galera cristã, um possível apartamento...

Sim Senhor!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Prós e contras que tenho sentido aqui - e-mail à família

Oi família! Como estão todos por aí?

Eu tô ótima por aqui, acho que nas duas primeiras  semanas eu estava estranhando bastante, em primeiro lugar a comida. É absurdo como o americano come mal, e eu sofri bastante a diferença, qualquer coisa por mínima que fosse que eu ingerisse, já me sentia estufada, enjoada, o irmão do Joe que passou 6 meses na África também sentiu a mesma coisa ao voltar às comidas industrializadas, chegamos aqui na mesma semana.

Os sucos vêm escrito "100% juice", e ainda falando que são laranjas do Brasil. Pode até ter 100% de suco lá, mas a quantidade de conservantes é o suficiente para você tê-lo aberto na sua geladeira por 3 semanas sem estragar (o suco que eu comprava no Hortifruti tinha que ser bebido diariamente, no dia seguinte a laranja já estava com aquele gostinho de passada).

O almoço não é almoço, é sanduíche. O que contribuiu muito para meus enjôos e fraquezas, é impressionante como alguns dias sem comer de verdade o fazem sentir tão fraco, fiquei me sentindo sem energia, com sono o dia todo, e a primeira vez que achei um lugar com arroz e feijão comi como um mendigo da etiópia, avancei num puta prato de pedreiro como se fizessem semanas que eu não comesse nada. Por outro lado, o café da manhã come-se muito. Tem muitas nojeiras e frituras, mas tem panquecas deliciosas com maple (muito parecido com o melado), waffles, torradas com manteiga e ovo, batatas cozidas (estranhei mas adorei), panqueca que parece com um crepe recheado de frutas... Isso eu vou levar pra vida, comidas gostosas pela manhã! O café da manhã lota os restaurantes aqui, que ficam com fila de espera, enquanto no almoço ficam vazios. A janta é deliciosa também, eles usam bastante aquela grelha elétrica ou à gás, o que dá um sabor incrível à comida. Muito frango grelhado, brócolis (sim mãe, o brócolis aqui é delicioso e me lembra couve flor cozida), milho, batata assada com casca, berinjela na grelha, tudo uma delícia! Comi muito bem esses dias na casa do Joe, a mãe dele cozinha magnificamente bem e tive a oportunidade de comer o melhor salmão da minha vida. Grelhado, tostadinho de leve e suculento por dentro. Delicioso! Vai a dica pra mamãe, Tia Edma e Tia Lucinha, que amam cozinhar e talvez não tenham feito salmão grelhado.

Eu poderia ficar horas discorrendo sobre as diferenças de como se comem por aqui, acho impossível mesmo você não ser gordo, nada é natural, e um copo de suco de fruta custa 6 dolares, uma limonada custa 4!! (e eu que costumava pagar 50 centavos na limonada no Centro do Rio, me recuso sequer a provar uma limonada por esse valor).

Outra coisa que sinto muito a diferença é nas pessoas, como as pessoas são mais frias, individualistas, cada um no seu próprio mundo. Esquisito porque no Brasil vivemos muito em condomínios, com casas com muros altos, e ninguém aqui tem muros, em lugar nenhum. Não há paredes entre as pessoas ou porteiros, e todos vivem numa base de confiança mútua, você olha pra casa e não vê um muro, e isso é lindo, porém ainda não consegui entender o por quê de um lado as pessoas serem frias e com seus lares expostos, e de outro, as pessoas serem mais abertas, e escondidas em casa. 

As pessoas são educadíssimas, e isso é um ponto super alto aqui, os serviços funcionam muito bem, todo mundo o respeita (acho que tem um pouco a ver com a frieza também, um não ousa invadir o espaço do outro), mas você não sente o coração sabe? É diferente. 
Você bota o pé na rua e todo mundo pára imediatamente, mas você abre um sorriso para agradecer e recebe de volta uma cara de sem paciência, da pessoa puta de ter que parar, de estar o fazendo somente porque é Lei (e as leis felizmente funcionam nesse lugar). Pedir informação na rua parece uma afronta às vezes, as pessoas parecem que têm medo de interagir, às vezes te olham nos olhos e fingem que não o viram, a vontade que dá é de dar um soco na cara.

Acho que todo mundo adora falar mal do Brasil gratuito, acho que aqueles que falam mal do Brasil na verdade nunca ficaram mais do que 10 dias convivendo em outra sociedade para dar o valor que nosso país merece. Me sinto muito orgulhosa, mesmo com tantos problemas, de ser de um país em que se aprende a lidar com o coração. Todo mundo fica feliz quando ganha um beijo ou abraço meu aqui, se assustam no início, mas me recuso a simplesmente estender uma mão ao ser apresentada por alguém, aprendi a dar calor, a dar carinho e é isso que eu faço, e fico feliz de ver a reação das pessoas, acho que sentem falta disso. Na verdade não é só questão de me recusar a me sentir fria (às vezes eu estico a mão sim), mas é mais forte do que eu ser apresentada e tocar na pessoa com mais afeto, sei lá, esquisito mesmo, mas pode ser só eu. Outro dia cortei meu cabelo e agradeci a mulher muito, dei um abraço, um beijo e uma gorjeta. Ela ficou maravilhada, falando que há 20 anos trabalha nos Estados Unidos, mas nunca as pessoas agradecem com um beijo, e ela, como grega, sentia falta disso.

Parece que o lugar que eu moro é um monstro da maneira que estou falando, também não é assim. Embora tenha muitos problemas fico feliz de estar num lugar em que eu sei que posso usar meu telefone na rua, que posso ir comprar um biscoito às duas da manhã sem ser abordada por ninguém, que os homens por mais que te achem bonita não te olham com aquele olhar como se você fosse um objeto ou uma carne andando, e que você tem voz.

Na minha primeira semana aqui a Gaby, minha co-habitante, tinha esquecido de pagar a internet e ela foi cortada. No tempo de eu ter ido escovar os dentes e fazer xixi, ela ligou para a operadora, pagou e a internet voltou. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo, perguntei mil vezes, pois achei que eu é quem estava entendendo errado. Não tinha que ligar pra NET, gritar, esperar três dias, ligar de novo e pedir para atualizarem o sistema porque você já pagou? Em 5 minutos eu tinha internet de volta mesmo? Incrível, liguei pra minha mãe na hora, como quem tinha visto um Tiranossauro na minha frente falando "mãe, você não vai acreditar o que acabou de acontecer!"

Outra coisa muito boa é que você realmente sente a democracia mais próxima. Você sente que as coisas são mais acessíveis a todos,  a cada compra que você faz, vem escrito o quanto você está pagando de imposto, e tudo é muito barato em relação ao que estamos acostumados. Acho que em pouco tempo minha visão de barato e justo mudou radicalmente, o que fazem conosco no Brasil é tão vergonhoso que talvez seja muito mais fácil mesmo o Governo manter a população com uma educação ridícula, para nem conseguirem pensar nas diferenças ou quererem reclamar, todo mundo vaquinha de presépio é mais fácil de lidar.

Sinto um pouco de paranóia nas pessoas, não todo mundo, mas não é culpa delas, a sociedade e as leis as fizeram assim. As leis funcionam muito bem, mas há leis demais por aqui. Bares só funcionam até às 2, não pode beber na rua, não pode estar bêbado na rua, não pode ir à praia à noite, não pode ficar muito tempo parado na frente da casa de ninguém, não pode botar moedas no parquímetro alheio. Qualquer coisa pode dar em prisão por aqui. Outro dia bebi com Joe na casa dele e saímos para dar uma volta na vizinhança, parávamos a cada 10 minutos em uma rua diferente, sentados na calçada conversando, pois se alguém achasse esquisito duas pessoas à noite na frente de suas casas e chamasse a polícia, teríamos uma chatice pra aguentar. No meu segundo dia por aqui, quando meu estômago ainda estava estranhíssimo, e eu saí à noite para um bar, e bebemos por lá. Fui ao banheiro e nunca vomitei tanto na vida (só vomitei por bebida 3 vezes, acho q era mistura de àlcool + estômago fudido), a mulher veio e falou que por lei ela tinha que chamar a ambulância para mim, minha amiga ficou preocupada e fomos para casa, para que eu pudesse vomitar em paz, sem médicos ou policiais tomando conta. Isso é bem chato.

Ontem voltando da farmácia minha sacola com um pacote de biscoito imenso (sim, tudo é absurdamente imenso aqui) arrebentou. Vim pra casa segurando ele na mão. Horas depois senti falta do meu celular, e logo pensei "droga, tava na sacola..", sem muita esperança como uma boa moradora do Rio, abri a porta às 11h30 da noite e fui me encaminhando pelas ruas, à procura dele. Eu moro numa área bem movimentada e com centenas de bares italianos, um lugar agradável para se viver, daqueles que a qualquer hora que você saia na rua, tem algum movimento, por menor que seja (até às 2 da manha na verdade, por lei). Qual não foi minha surpresa ao ver meu telefone ali, quietinho e espatifado no chão, sozinho. Acho que essa mesma cena infelizmente não poderia ser reproduzida aonde eu morava. Se na Hilário de Gouveia, voltando do Mc Donalds eu deixasse um telefone espatifado no chão sozinho, ainda que eu morasse na rua da delegacia, com certeza eu poderia esquecer e desistir de procurá-lo. Isso é um ponto ótimo aqui!

Quando eu disse que a democracia é mais próxima, esqueci de exemplificar. Aqui o Joe trabalha como pintor, pintor de casa mesmo, trabalha com alguns pedreiros brasileiros até. Todo mundo tem que trabalhar aqui, os pais não pagam as coisas pros filhos desde o colégio e eles têm que se virar, é tipo " vai cortar grama do vizinho, se vira mas nao fica em casa esperando que eu faça nada por você". Parece duro mas acho muito interessante, desde cedo te dá noção do quanto vale o dinheiro, de que você é responsável e seus pais não são babás. E ao mesmo tempo, as pessoas recebem por hora, e são pagas semanalmente. Acho mais interessante dessa forma, pois você sabe o quanto vale uma hora sentado lá, ou fazendo o que você está fazendo, você cria realmente a noção de "tempo é dinheiro", e ao final da semana, sua conta que estava zerada já tem um valor que o permite sentar num barzinho com os amigos e beber uma cerveja. Você sente o fruto do seu trabalho mais próximo, e ao mesmo tempo, ganha-se mais, e paga-se menor por melhor qualidade. É absurdo! Eu não trouxe toalha porque não queria ocupar minha mala, e fui numa loja aqui perto comprar uma barata qualquer. Uma barata nas Lojas Americanas de qualidade duvidosa custa quanto? Uns R$25 reais? Me lembro que num carnaval eu viajei e esqueci a toalha. Paguei por uma que virou pano de chão de tão ruim uns R$18 reais, era dessas que mais parecem que espalham a água no corpo do que secam sabe? Então deve ser por ai o valor mais ou menos, mas estou divagando. 
Como eu dizia, fui na tal loja comprar uma toalha, e achei uma muito boa por R$6,99, escolhi a cor e fui ao caixa. Já seria incrível ter uma toalha de qualidade muito boa por esse preço né? Mais incrível ainda o fato de ela ser da Ralph Lauren. Uma toalha qualquer dessa marca custa 90 reais no Mercado Livre, onde as pessoas vendem as coisas por muito mais barato, então nem imagino o valor original numa loja.

Não que eu esteja falando que marca seja tudo nessa vida, mas uma pessoa mais humilde quer se sentir igual ao outro no Brasil e em qualquer lugar, quer saber que pode comprar a mesma coisa, e aqui isso é muito mais próximo, muito mais possível. Um vestido lindo na Forever 21 (uma especie de Farm daqui) custa R$20 dólares, enquanto se você não estiver preparada a desembolsar no mínimo R$170 por aí, não vai ter algo bacana, de qualidade. Não estou exagerando mesmo, qualquer menina aqui que trabalhe uma hora como babysitter, por mais do gueto (as favelas daqui) que sejam, podem se sentir felizes vendo o fruto do seu trabalho e usar um vestido da Forever 21, e ficar igualzinha à burguesinha que mora na Zona Sul daqui. Claro que a burguesia vai poder comprar coisas mais caras também, mas mesmo assim, até as marcas mais caras são muito mais acessíveis para quem quiser, e assim as pessoas se sentem mais iguais às outras, as diferenças sociais são menores, o negro daqui pode usar Nike, Adidas e se sentir feliz, e todos nós sabemos o quanto é importante você não se sentir inferior, que pode menos do que alguém, ainda que isso seja representado por um cavalinho ou jacaré desenhado numa camisa.

Não sei, balanceando, no final todos os lugares têm muitos prós e contras. Embora eu ame minhas comidas, meu clima e meu povo, é incrível estar num lugar como este, que por mais que seja bobo falar dos preços das coisas, no final nós trabalhamos para nos dar conforto, qualidade de vida pra nossa família, e isso é muito mais fácil por aqui.


Já terminando o e-mail, lembrei de um episódio na semana passada. A prima de um amigo me chamou para ir andar numa trilha com ela, e lá fui eu. Então estou eu andando numa trilha, onde a cada 10 ou 15 minutos você passa por alguém vindo na direção contrária. O que acontece normalmente por ai numa situação dessas? Você tá sozinho, de cara com alguém que está voltando do caminho que você está começando a fazer, então o normal é comentar qualquer coisa, um cumprimento, sei lá, esquisito não falar nada né? Tipo aquelas situações chatas de elevador. E lá vou eu, cumprimentando todo mundo, dando "hi", sorrisos e comentários bobos sobre a trilha, aquelas coisas passageiras né? Essa menina que tava comigo começou a falar para eu parar de fazer isso, que as pessoas não gostavam de interagir, e um cachorro fofo veio correndo na minha direção, e eu estiquei a mão e ela disse "dont do it!!", indicando para que eu não fizesse carinho. E comentei com Joe o ocorrido. Quando comecei a pensar, as pessoas realmente se sentiam invadidas, as pessoas talvez não quisessem ser cumprimentadas mesmo, nem que ninguém tocasse no seu cachorro fofo. Será? Não quero me tornar uma pessoa fria aqui, e ouvi isso de pessoas queridas por aqui, para eu não deixar de ser eu, não deixar de continuar dando amor, que é assim que eu aprendi, assim que me faz bem, e amor nunca faz mal às pessoas. De repente eu só me adapto um pouco para não deixá-las assustadas com tanto sorriso... hahahah =)

Amo vocês!

Beijos saudosos!

Dia 21

Hoje faz 21 dias em que estou nos Estados Unidos. Como boa brasileira que sou, comecei a escrever atrasada. Engraçado, estava com a cabeça lotada de idéias, e assim que abri o meu computador, parece que todas fugiram.

Estava pensando nas minhas experiências por aqui. É incrível que em tão pouco tempo em um lugar completamente novo nos proporcione tanta coisa.

Nas primeiras duas semanas eu estava tendo dificuldades, em primeiro lugar dificuldades comigo mesma. Herdei da minha mãe um sentimento de controle/ auto controle/ controle das situações muito grande. Nunca gostei de beber ao ponto de perder o controle de nada, nunca me interessei por drogas, por medo de não saber me controlar, procuro sempre em uma relação não perder meu próprio controle, procuro resolver tudo sempre de maneira civilizada, sempre procurei andar na linha. Isso não me faz uma pessoa chata, não deixei de viver nada, eu simplesmente procuro não me sentir perdida, ou dependente de ninguém, em ocasião alguma, e quando elas surgem eu simplesmente tento lidar com isso (sem perder o controle). Ao mesmo tempo não tenho medo de me apaixonar, de me entregar à pessoa amada e me sentir amando por completo e feliz. Isso é ótimo, estou muito feliz no momento! Acho que se entregando é a melhor maneira de se sentir vivo, se realmente se sentir completo, e quanto aos meus sentimentos eu não procuro controlar de maneira alguma, simplesmente vivo.

Mas digo isso em relação ao controle de situações porque ao entrar num lugar, principalmente num país onde você não conhece realmente os costumes, você vê que você não tem o controle de nada. Não que a sociedade americana seja tão diferente da brasileira ao ponto de nos deixar descontrolados (talvez como seria em ir para um país Árabe), mas mergulhada em uma sociedade qualquer e olhando tão próximo outra cultura você começa a reparar que coisas tão pequenas são absolutamente diferentes, e só o que você tem que fazer é aprender o que fazer.

Parece simples, mas para uma pessoa que gosta de ter o controle das coisas como eu é uma coisa bem desagradável. Meu namorado é americano, e eu estava acostumada a tê-lo no Brasil, a saber lidar com as situações, por mais bobas que fossem, como pedir uma pizza pelo telefone, lidar com pessoas no dia a dia, e passar a bola pra ele e reconhecer que eu tenho que aprender a lidar com as situações novas que me são postas foi bem difícil.

Coisas simples, como ir à farmácia se tornam algo em que você deve estar disposto a reconhecer que deve aprender. A começar pelos produtos, você não conhece marca nenhuma, não sabe qual é o papel higiênico mais macio. Não sabe ver os preços,  tem o preço do varejo e do atacado (ou algo assim, talvez eu ainda não tenha entendido porque há um preço em oz e um que é o que eu pago) e você não sabe se o preço que você vai pagar é aquele U$15 ou aquele U$3 que tá ali. No caixa, não há um atendente, mas uma máquina em que voce deve passar o produto e efetuar o pagamento, tudo sozinho. Parece uma aventura.

Me senti pequena nas duas primeiras semanas. Sentia vontade de chorar e correr pro colo da minha mãe. Sim, sou assim, talvez eu não encare bem situações novas em que eu não tenha controle do que eu deva fazer. Fui assim nos dois primeiros escritórios em que trabalhei, nas primeiras duas semanas sentia vontade de correr pro colo e não sair de lá, e depois amava tanto que queria mais e mais essa sensação de estar aprendendo o tempo todo.

E está sendo assim, estou tentando me abrir mais às situações, me sentir mais à vontade com a língua, penso rápido, mas tenho vergonha de me expor, sinto como se estivesse “pegando emprestado” o uso da língua, que ela não me pertence.

Eu estou mudando, sinto muito isso e estou achando ótimo. Há muito tempo não me sentia intrigada por nada, instigada pelas coisas. Observar as pessoas, a maneira como agem, se torna algo completamente novo, a cada segundo sinto que estou aprendendo algo novo.

Hoje escrevi um e-mail para a minha família contando um pouco de como me sinto por aqui, muitos prós e alguns contras. O maior contra daqui é a frieza das pessoas. Acho que com um pouco mais de amor ao próximo, roupas coloridas e uma boa churrascaria esse lugar seria perfeito.

Estava em casa pensando muito em minha experiência por aqui, e estou tentando aproveitá-la ao máximo para meu crescimento pessoal, então me dirigi à Starbucks (acho um bom lugar para se observar americanos, já que era essa minha intenção, observar e escrever), e no caminho havia uma senhora com um rapaz fechando a calçada andando lentamente, ao melhor estilo velhinha-de-Copacabana de ser. "Excuse-me" eu disse. Ela me abriu passagem e com um sorriso grande respondi aos dois "Thank you!".  O olhar que recebi foi tão severo, como se eu tivesse feito algo errado que continuei meu caminho pensando, preferi ir à duas Starbucks depois (não que isso signifique muito longe, há uma em cada esquina aqui). Por que não sorrir de volta? Como o coração de alguém fica tão frio ao ponto de não se manifestar com o poder de um sorriso? 

Fiquei intrigadíssima, e ainda estou. Qualquer um que esteja dirigindo, com pressa ou com raiva de algo e veja uma criança no carro da frente fazendo careta imediatamente sorri. Qualquer um que abra um sorriso para você, imediatamente, ainda que não o faça sorrir, amolece seu coração, quase tão automático quando como alguém boceja na sua frente, não tem como não responder com um bocejo.

Ao chegar na Starbucks vi que estava lotada e desisti. Ao mesmo tempo me veio uma senhora perguntando se eu estava procurando uma Starbucks que não estivesse lotada, simpatissíssima me indicou três vezes o caminho correto, com um sorriso e um "tenha um bom dia". Agradeci a gentileza. "Você é bem vinda" ela respondeu. Seria a tradução literal de "de nada" (you're welcome), gosto muito da tradução literal, é melhor me sentir bem vinda do que sentir que não foi nada para a pessoa. Encontrei a outra Starbucks feliz.